quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Subsídios públicos

Muitas pessoas defendem que o Estado deve subsidiar empresas nacionais, como fez, por exemplo, o BNDES ao fornecer um empréstimo para a construção, por uma empresa brasileira, de um porto em Cuba.

Frédéric Bastiat, em sua sátira sobre a petição dos fabricantes de velas, abordou muito bem este tema. Neste texto, Bastiat faz uma petição aos políticos solicitando que a população seja obrigada a manter sempre suas casas com as janelas fechadas porque a indústria de velas não consegue competir com o sol.

Esta é a essência de todo subsídio. Uma empresa, ao não conseguir fornecer um produto a um preço competitivo, pede que o governo pague por uma parte e assim viabilize seu negócio. Os resultados desta ajuda governamental são facilmente visíveis: a empresa pode continuar produzindo, os seus produtos podem continuar se espalhando pelo país e os empregos podem ser mantidos. Esta foi justamente a resposta dada por Dilma no debate de ontem na bandeirantes ao ser questionada sobre a ajuda do BNDES à Cuba.

O que as pessoas raramente percebem são as outras consequências. Dificilmente alguém questiona de onde vem o dinheiro que o governo usou. A resposta é simples, ele é obtido através de impostos, uma vez que o Estado não produz nenhuma riqueza. Desta forma, toda a população paga, via impostos, para ajudar algumas poucas empresas. Esse dinheiro, que foi retirado da população e direcionado pelo governo a alguns privilegiados, deixa de ser utilizado para os fins que naturalmente cada um escolheria. Por exemplo, uma família deixará de comprar uma TV, irá menos a restaurantes, ou gastará menos com lazer. São estas empresas, que deixarão de receber o dinheiro que a população normalmente gastaria com elas, que muitas vezes vão a falência ou sequer surgem. Tais consequências quase ninguém vê.

Termino com uma passagem do excelente livro de Henry Hazlitt, Economia Numa Única Lição, que resume muito bem o que foi debatido neste artigo.

"Aquele empreendimento tão grande que "o capital privado não teria podido realizar", foi, na verdade, realizado pelo capital privado - pelo capital expropriado mediante imposto (ou, se o dinheiro foi tomado como empréstimo, acabará sendo expropriado também com impostos).
Precisaremos, novamente, fazer um esforço de imaginação para vermos as usinas de força e as habitações particulares, as máquinas de escrevere os aparelhos de televisão, que não se permitiu viessem a surgir, porque o dinheiro que se arrancara do povo, em todo o país, fora empregado na construção da fotogênica Represa de Norris."


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A ignorância de Mantega (ou será cinismo?)

O ministro da economia, Guido Mantega, deu uma entrevista recentemente para a Folha de São Paulo. Suas respostas mostram ignorância em relação ao que ocorre com a economia brasileira, ou pior, demonstram que ele, assim como muitos companheiros de partido, também prefere o cinismo à verdade.

Perguntado sobre a afirmação do empresário Benjamin Steinbruch de que "só louco investe no Brasil", o ministro respondeu que o empresário está "redondamente equivocado" e que o "Brasil é considerado um lugar privilegiado". Disse ainda que prefere "olhar os dados concretos". Pois vamos aos dados concretos de 2012 do FMI:

Taxa de Investimento % do PIB em 2012 – América Latina e Caribe 

Taxa de Investimento no Brasil versus média da América Latina e Caribe – 1994-2012 – % do PIB

Pode-se perceber que o Brasil está, há vários anos, muito atrás dos países da América Latina na relação investimento versus PIB. Por que o ministro não falou sobre isto?

Em seguida perguntaram ao ministro: Por que esse pessimismo do empresariado nacional? Obviamente não houve resposta. Mantega limitou-se a dizer que o "Brasil foi um dos países que mais teve investimento geral, aí não estou falando do externo, estou falando do investimento geral". Acontece que, de uma lista de 188 países, o Brasil ficou na 144º colocação. Será que é possível definir esta colocação como sendo de um país que "mais teve investimento geral"? O ministro desconhece este dado ou apenas mente?

As inconsistências continuam e, em seguida, Guido Mantega afirma que a moeda brasileira está sendo cobiçada e que a valorização do Real nestes últimos meses mostra isto. O ministro só não disse que o Banco Central vem adotando sistematicamente medidas de swap cambial para deter a desvalorização de nossa moeda.

Ao ser perguntado sobre inflação, Mantega mostra desconhecer completamente o que é inflação e como ela é gerada. Segundo ele, combater este mal é algo ruim para a população e afirma que os salários no Brasil não caíram. Novamente nosso ministro ignora justamente as consequências da alta inflação que vigora no país, a despeito da maquiagem do governo. Ora, se no ano passado a inflação de serviços foi de cerca de 10% e os salários subiram, por exemplo 6%, significa que o valor real do salário caiu, significa que a população pode adquirir menos bens ou serviços hoje em relação ao ano anterior. Veja abaixo a inflação acumulada no governo do PT.

IPCA Acumulado - Fonte BC
Em 12 anos a inflação (oficial) acumulada é de 94%. Isto significa que o salário tem que ter dobrado de valor apenas para manter minimamente o seu padrão de compra de 12 anos atrás. Portanto, o simples fato dos salários subirem não diz absolutamente nada. É preciso subir mais do que o aumento do custo de vida, para assim, seu poder de compra efetivamente melhorar.

Guido Mantega segue aniquilando toda realidade e afirma que "há um equívoco em dizer que não há recomposição de preços", se diz ainda preocupado que, caso outro partido assuma a presidência, ocorram grandes aumentos nos preços administrados pelo governo. Apenas para citar dois exemplos, pode-se analisar os preços da energia elétrica e da gasolina. Desmentindo tudo que o ministro disse, em virtude da repressão dos preços de energia, recentemente o governo fez o segundo socorro, somente este ano, ao setor elétrico. O mesmo ocorre com a Petrobras que tem prejuízo na gasolina que importa.

A entrevista possui ainda outras demonstrações que nosso ministro da economia ou não está preparado para assumir tal cargo, uma vez que desconhece totalmente o que ocorre no país, ou sabe e mente. Qualquer uma das duas opções reforça o quanto é importante mudarmos o partido que comanda o país.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ilha da fantasia


 "A única forma de se livrar, ou mesmo de aliviar, o retorno periódico do ciclo econômico - com seu clímax, a crise - é rejeitar a falácia de que a prosperidade pode ser produzida pelo uso de instrumentos bancários para tornar o crédito barato." - Ludwigvon Mises

Estamos vivendo uma fantasia criada por uma bolha de crédito estimulada e inflada por nosso governo.

Nos últimos dias os jornais divulgaram notícias aparentemente desconexas, mas que no fundo são frutos do mesmo mal, gastar o que não se tem.

O calote argentino marca o fim de um ciclo de um governo que gastou sistematicamente muito mais do que arrecadava e em nenhum momento cogitou a necessidade de um ajuste fiscal. Afinal, para a grande parte dos governantes, a riqueza pode ser criada através da impressão maciça de dinheiro. Como já comentado aqui, nossa sociedade tem, cada vez mais, receio de encarar a verdade.

A crise no futebol brasileiro está difícil de ser escondida. Recentemente, o  presidente do Botafogo declarou que cogita "pedir licença" do campeonato brasileiro devido ao bloqueio das contas bancárias do clube em virtude do não pagamento de suas dívidas. O caso do clube carioca está longe de ser isolado. Mesmo com receitas limitadas e alto endividamento, os clubes brasileiros continuam pagando salários milionários aos seus jogadores e se endividando ainda mais. Todos parecem viver como se não houvesse amanhã, como se dívidas não tivessem que ser pagas.

Nosso governo, maior patrocinador desta enorme bolha de crédito, recentemente anunciou a diminuição do compulsório dos bancos na esperança de conseguir melhorar os números do PIB brasileiro. Recheado de economistas keynesianos heterodoxos o governo federal do Brasil resolveu levar ao pé da letra a afirmação de Keynes que "no futuro estaremos todos mortos". Logo, por que se importar com as gerações futuras? Por que medir as consequências dos seus atos? Vale tudo para permanecer no poder. 

O resultado da falácia de que a prosperidade pode ser alcançada com crédito artificialmente barato sempre será o calote seguido de uma severa recessão. A Argentina já anunciou o seu, quanto tempo até o Brasil fazer o mesmo? É difícil precisar, mas se nosso desequilíbrio fiscal continuar, não há dúvida de que vamos seguir o mesmo inevitável caminho dos argentinos.

Seja através do calote, seja através de um rigoroso ajuste nas contas, o destino de quem vive uma fantasia, gastando mais do que ganha, é sempre o mesmo, o retorno a realidade.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A verdade é filha do tempo

“Veritas filia temporis”, São Tómas de Aquino

Quanto mais leio os jornais mais percebo o terror que eles têm em dizer a verdade. Mas isto não parece ser um problema apenas dos jornais, esse sentimento parece ter se alastrado por toda sociedade.

Para Dilma o único problema do Brasil são os "pessimistas". Apesar do baixo crescimento, da inflação alta (mesmo com as maquiagens feitas, assumidas pelo próprio governo) e do crescimento assustador da dívida pública, para nossa presidente tudo vai muito bem. A negação dos fatos e da realidade é mais um marco deste governo.

A verdade é filha do tempo e ela teima em sempre aparecer, mesmo contra vontade das pessoas.